
O Artigo II, Seção 3 da Constituição dos Estados Unidos determina ao Presidente "periodicamente fornecer ao Congresso Informações do Estado da União e recomendar à sua consideração as medidas que ele julgar necessárias e convenientes". Isso é chamado de "State of the Union". Anualmente o Presidente dirige-se ao Congresso e diante de Senadores e Deputados faz uma prestação de contas do desempenho do Governo no ano anterior e sinaliza para as ações a serem implementadas no ano que se inicia.
Em 18 de dezembro de 2019 a Câmara Federal (House of Representatives) aprovou o envio ao Senado de uma indicação para o impeachment do Presidente Trump, baseado em dois artigos: Abuso de Poder e Obstrução ao Congresso. Depois de uma série de escaramuças, próprias de casas legislativas, o Senado marcou a votação que determinaria o afastamento do Presidente para o dia 5 de fevereiro.
Em 4 de fevereiro, portanto um dia antes da votação no Senado, o Presidente Trump dirigiu-se ao Congresso para fazer o seu discurso do Estado da União. Ali seria recebido pelo Vice-Presidente Mike Pence (pela legislação americana, o vice-presidente é também o Presidente do Senado) e pela Presidente da Câmara (Speaker of the House Representative), sua arquiadversária Nancy Pelosi. A estes deveria entregar cópia do seu pronunciamento e então ter sua palavra anunciada por Nancy Pelosi. Duas imagens traduzem com fidelidade a tensão existente nesse majestoso e histórico evento: após receber a cópia do discurso pelo Trump, Nancy Pelosi estendeu-lhe a mão sendo solenemente ignorada por ele. A resposta veio no momento em que o Presidente concluiu o pronunciamento: a Presidente da Câmara ostensivamente rasgou a cópia do discurso presidencial, gesto acompanhado em tempo real por toda a mídia presente.
O Presidente Trump encontra-se em plena campanha para a reeleição e nenhum momento mais apropriado para, em nível nacional e com cobertura em tempo real de toda a mídia do país, fazer a apologia do seu primeiro termo. E ele o fez muito bem! Ali não tinha apartes, objeções a serem refutadas. Ao contrário, havia uma grande platéia de Senadores e Deputados republicanos dispostos a aplaudi-lo e sua experiência como ex-apresentador de televisão. A tempestade perfeita para os Democratas.
No dia seguinte o Senado, de maioria Republicana, fez o seu esperado trabalho: enterrou de vez as duas acusações contra o Presidente do seu partido. A 59ª eleição para Presidente em novembro próximo, encontrará o país cada vez mais fragmentado. Como escreví em agosto de 2019 ( God bless America - https://nilosergiobezerra.blogspot.com/2019/08/god-bless-america.html ) - "Ouvi de um amigo, 'baby boomer' americano (geração Woodstock), que desde a década de 1960 não havia visto a sociedade americana tão dividida. Naquela década, foram assassinados o Presidente John Kennedy, seu irmão e Senador Robert Kennedy, o líder religioso e maior expressão contra o apartheid Marthin Luther King Jr, entre outros. Era o auge da Guerra do Vietnam, o maior desastre bélico dos Estados Unidos e que encontrava enorme resistência do seu povo, principalmente dos jovens." - a impressão que tenho é que a divisão social aprofunda-se dia a dia. Esse cenário lembra algum outro país?
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